Rodrigo Rodrigues*
São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, abriga milhões de habitantes e uma vasta gama de políticas públicas, movimentos e projetos voltados para garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência (PcD) ou com mobilidade reduzida (PMR), uma vez que enfrentam comorbidades ou limitações físicas que dificultam suas atividades cotidianas.
Segundo estimativas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio – PNAD 2022, a população brasileira é composta por 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, o que corresponde a 8,9% do total de habitantes de 2 anos ou mais de idade domiciliados. Isso significa que praticamente 9 em cada 100 pessoas possuem alguma deficiência.
Outro dado significativo é que quase metade dos brasileiros com deficiência são pessoas idosas (47,2%), enquanto esse percentual na população sem deficiência é de cerca de 12,5%. Entre as questões mais frequentes estão a dificuldade para andar ou subir degraus (3,4% da população), seguida de problemas para enxergar (3,1%) e da dificuldade para aprender, lembrar-se das coisas ou se concentrar (2,6%).
Quanto à deficiência intelectual, 0,8% da população apresenta esse quadro, sendo que a maioria (0,5%) nasceu com as limitações. A deficiência auditiva está presente em 1,1% da população. O Nordeste é a região com maior percentual de pessoas com deficiência, que representa 10,3%, já a região Sudeste apresenta o menor percentual, com 8,2%.
É preciso reconhecer que, em algum momento, todos enfrentaremos limitações físicas. E, nessa fase, a Tecnologia Assistiva fará parte fundamental de nossas vidas, como uma aliada necessária, indo muito além dos wearables (dispositivos eletrônicos vestíveis que monitoram e interagem com o usuário) populares.
Somente este ano, nos principais eventos da área de saúde, foram apresentadas uma série de inovações tecnológicas que estão transformando a medicina e que também nos beneficiarão, à medida que enfrentamos sequelas de alguma intercorrência de saúde.
Tecnologia Assistiva no centro da discussão
De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei Nº 13.146/2015), a tecnologia assistiva é definida como produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que promovem a funcionalidade relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, envolvendo sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
Esta definição é essencial para compreendermos como essas soluções podem melhorar a qualidade de vida e reduzir a dependência de terceiros, começando desde a fase aguda em hospital geral passando por hospitais de transição de cuidados especialmente nos protocolos de reabilitação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a demanda por tecnologia assistiva deverá crescer significativamente nas próximas décadas, com a previsão de que 2 bilhões de pessoas precisarão desses recursos até 2050.
Muitas dessas soluções tecnológicas já fazem parte do dia a dia de grande parte das pessoas, como por exemplo:
- Leitores de tela: softwares que permitem que pessoas com deficiência visual ouçam o conteúdo de textos digitais, como JAWS ou NVDA;
- Próteses: dispositivos que substituem membros ou partes do corpo ausentes, como braços ou pernas protéticas;
- Cadeiras de rodas motorizadas: veículos assistivos que proporcionam mobilidade para pessoas com deficiências motoras severas;
- Aparelhos auditivos: amplificam o som para auxiliar pessoas com perda auditiva;
- Comunicadores alternativos: dispositivos de comunicação para pessoas com dificuldades de fala, como a Prancha de comunicação, ou softwares como Proloquo2Go;
- Mouses adaptados: permitem o uso do computador com movimentos limitados, como mouses controlados pelos olhos ou por sopros;
- Talheres adaptados: colheres e garfos com cabos grossos ou ajustáveis que facilitam o manuseio por pessoas com dificuldades motoras, como artrite;
- Abridores de portas automáticos: mecanismos que abrem portas automaticamente, ideais para cadeirantes ou pessoas com dificuldades de movimento;
- Chuveiros e banheiras adaptados: equipamentos com barras de apoio, bancos e pisos antiderrapantes para garantir a segurança e independência no banho;
- Apps de reconhecimento de voz: ferramentas como o Google Assistant ou Siri, que permitem que pessoas com dificuldades de mobilidade ou visão enviem mensagens ou liguem para alguém usando comandos de voz;
- Hospitais de reabilitação por incapacidade temporária ou definitiva (Transição de Cuidados). Esse modelo de cuidado capacita o indivíduo para que esteja apto à sua nova condição, reinserindo-o à sociedade.
Transição de cuidados e a reabilitação são peças-chave no cuidado da saúde mental e física, indo além da tecnologia assistiva
O uso de tecnologia assistiva tem se tornado um diferencial essencial na área da saúde, promovendo mais autonomia e qualidade de vida para pessoas em reabilitação ou com mobilidade reduzida. Esses recursos são projetados para oferecer suporte funcional e emocional, impactando diretamente os processos de recuperação e transição de cuidados, tanto em instituições hospitalares quanto no ambiente domiciliar.
Em um momento em que a tecnologia assistiva ganha destaque, a transição de cuidados e a reabilitação mostram-se igualmente cruciais para uma recuperação completa e sustentável. Embora a tecnologia assistiva ofereça recursos inestimáveis para facilitar a vida de pessoas com limitações físicas, a reabilitação e a transição de cuidados atendem também à saúde mental e ao bem-estar emocional, promovendo não apenas o fortalecimento físico, mas uma verdadeira ressignificação de vida.
Tratam-se de soluções e serviços complementares, uma vez que os processos de reabilitação incentivam a socialização, constroem vínculos com profissionais de saúde e trazem de volta um senso de propósito para os pacientes, algo que apenas a tecnologia assistiva não alcança sozinha.
Outro ponto relevante é que a reabilitação integrada trabalha aspectos como a autoestima e a confiança, fundamentais para o processo de recuperação e reintegração social. Essa abordagem evita que o paciente se sinta isolado ou limitado apenas por adaptações tecnológicas, favorecendo a construção de uma rede de apoio com cuidadores, familiares e profissionais da saúde, o que reforça o valor humano do cuidado e oferece uma experiência de recuperação mais significativa.
Este posicionamento reforça que a reabilitação promove uma recuperação integral, colocando o ser humano como foco e fortalecendo o aspecto psicológico, emocional e social, diferenciais que vão além das funcionalidades das tecnologias assistivas.
*Rodrigo Rodrigues é Diretor de Relacionamentos da YUNA, instituição especializada em reabilitação e cuidados paliativos.