Manter a qualidade de ensino e enfrentar a concorrência que disputa para oferecer o menor custo são desafios para as instituições
O ensino a distância (EAD) é uma realidade dentro do ensino superior no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e do Ministério da Educação (MEC), entre os anos de 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos de graduação a distância aumentou 474%, saltando de 18,4% do total para 62,8%, enquanto a taxa de novos alunos na modalidade presencial caiu 23,4%.
O crescimento foi alavancado pelos cursos de graduação em instituições privadas de ensino. Em 2019, pela primeira vez na série histórica, o número de ingressantes em cursos de EAD superou o da modalidade presencial na rede particular. Em 2021, esse número chegou a 70,5% dos estudantes totais dos centros educacionais.
Ao todo, 2.574 instituições de educação superior foram registradas no Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021. Dessas, 87,68% (2.261) eram privadas e 12,2% (313), públicas. No mesmo ano, 96,4% das vagas abertas foram de responsabilidade das instituições particulares.
“O EAD é uma realidade há vários anos, principalmente para a formação de professores. O formato democratizou o acesso e a permanência num país em que o ensino superior era um privilégio para poucos”, explica Dinamara Pereira Machado, diretora de EAD do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe-PR).
Dentro desse cenário, fica claro que o ensino a distância não está apenas estabilizado, mas segue em crescimento exponencial no Brasil. Por isso, é importante voltar os olhares aos centros de ensino para que, em meio à alta demanda, a qualidade do ensino ofertada não sofra prejuízos.
O EAD vai além da realização de uma videoaula. Trata-se de um processo educacional. Por isso, é importante combater o barateamento dentro do segmento, para evitar no mercado a entrada de instituições de ensino que não oferecem o suporte necessário para a aprendizagem dos estudantes.
“Os desafios estão centrados na concorrência desleal, em que impera o preço e não a qualidade. Quando o preço da mensalidade é a única referência para uma instituição de ensino, se negligencia os demais fatores, como a formação dos professores, o plano de carreira e as práticas formativas para os estudantes”, discorre a diretora.
O processo educacional como um todo passa por um maior entendimento sobre o próprio EAD. Afinal, essa modalidade de ensino não consiste apenas na relação entre o professor, que propõe as atividades, e um aluno passivo, que não dá continuidade a esse processo de discussão. O estudante precisa ser ativo e, para isso, é necessário que haja estímulos do corpo docente para uma maior proposição de atividades e debates, em especial com a utilização proveitosa de ferramentas tecnológicas.
Outra adequação importante que o modelo pode oferecer é uma ementa mais flexível e que leva em conta a realidade socioeconômica das regiões em que os estudantes estão inseridos. Os novos mercados da educação não englobam apenas os cursos tradicionais, mas, sim, disciplinas nichadas que vão de encontro a esses cenários regionais, fundamentais para maior assertividade com as necessidades profissionais dos alunos.
“Após mais de 30 anos atuando no EAD, acredito que precisamos de um novo momento para resinificar o entendimento acerca da qualidade e entender que os novos cursos, em diferentes cenários, irão se mesclar. Em um futuro próximo, compreenderemos o processo de aprendizagem como híbrido, para além de uma modalidade de ensino”, finaliza a especialista.