Um olhar sobre o luto, a eternização da memória e o papel da psicoterapia
Perder alguém que amamos é uma das experiências mais difíceis que podemos enfrentar. O luto é um processo natural, composto por fases que nos ajudam a lidar com essa dor. O psicoterapeuta Luti Christóforo comenta sobre este assunto tão importante. “Embora Elisabeth Kübler-Ross tenha popularizado as cinco fases do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), é importante lembrar que essas fases não acontecem necessariamente de maneira linear. Cada pessoa vivencia o luto de forma única, podendo passar por uma ou mais dessas etapas em momentos diferentes, ou mesmo pular algumas”, explica o profissional.
Mais do que entender as fases, é essencial desenvolver uma nova perspectiva sobre o luto: a de focar na gratidão pela presença que aquela pessoa teve em nossas vidas, ao invés de focarmos exclusivamente na dor da perda. Sobre isso Luti cita Jung, “Não há despertar de consciência sem dor”. Esse despertar nos convida a olhar além da ausência física e perceber que, embora a pessoa não esteja mais entre nós, ela pode ser eternizada em nossos pensamentos, sentimentos e memórias.
A morte é um evento natural, e a perda deve ser vista não como uma tragédia absoluta, mas como uma oportunidade de reconhecer o valor que aquela pessoa trouxe à nossa existência. Epicteto, um dos grandes filósofos do estoicismo, nos lembra que “não é o que acontece com você, mas como você reage a isso que importa”.
Assim, ao lidarmos com a morte, podemos escolher lembrar e celebrar a vida compartilhada, em vez de nos concentrarmos apenas no sofrimento da perda. “É inegavelmente triste perder alguém, mas seria ainda mais triste nunca ter conhecido ou convivido com essa pessoa. Por isso, cada momento ao lado de quem amamos deve ser lembrado com gratidão”, diz o psicoterapeuta.
Lidar com o luto, portanto, não é sobre esquecer ou superar, mas sobre transformar a dor em uma conexão eterna com a pessoa que partiu. Nossas lembranças e a influência dessa pessoa em nossas vidas são o que realmente permanece, tornando-a imortal em nossas memórias. Como Jung também afirmou: “Aquilo a que você resiste, persiste. Aquilo a que você se permite, se transforma.”
- importância de demonstrar nossos sentimentos enquanto há tempo
Um dos maiores aprendizados que o luto pode nos trazer é a importância de demonstrar e verbalizar nossos sentimentos pelas pessoas que ainda estão vivas. Muitas vezes, deixamos para expressar nosso amor, gratidão e apreço apenas em momentos de despedida ou quando já é tarde demais. Precisamos cultivar o hábito de dizer “eu te amo”, “eu me orgulho de você” ou simplesmente “obrigado” com frequência, para que não carreguemos arrependimentos ou sentimentos de culpa por não termos feito isso enquanto podíamos. A morte de alguém querido deve nos lembrar de fortalecer as relações com aqueles que ainda estão ao nosso lado, valorizando cada momento e criando laços mais profundos e significativos com as pessoas que fazem parte de nossas vidas.
- O papel da psicoterapia no enfrentamento do luto
Embora o luto seja uma experiência natural, ele pode, em alguns casos, se tornar tão intenso que interfere na vida cotidiana e no bem-estar emocional. Nessas situações, a psicoterapia é uma ferramenta essencial para ajudar a pessoa a lidar com a dor e desenvolver maior resiliência. Através da terapia, o enlutado pode expressar seus sentimentos em um ambiente seguro e acolhedor, onde a dor é validada e compreendida.
A psicoterapia não tem como objetivo “curar” o luto, pois ele não é algo que deva ser simplesmente superado. Em vez disso, o processo terapêutico auxilia a pessoa a encontrar formas saudáveis de conviver com a perda, integrando-a à sua vida de maneira mais harmoniosa. “A terapia ajuda a pessoa a reconstruir sua identidade e seu propósito após a perda de alguém querido, proporcionando um espaço para reflexão sobre a continuidade da vida”, diz Luti Christóforo.
Por meio da psicoterapia, o indivíduo pode aprender a cultivar resiliência, ou seja, a capacidade de enfrentar e se adaptar a situações difíceis. Além disso, a terapia oferece ferramentas para desenvolver a paz consigo mesmo, permitindo que a pessoa encontre um equilíbrio entre a dor da ausência e a gratidão pela memória do que foi vivido. Com o tempo, essa abordagem promove um processo de cura emocional, em que o luto deixa de ser uma ferida aberta para se tornar uma cicatriz que simboliza o amor e a conexão com a pessoa que partiu.
A importância do autocuidado no processo de luto
Além da psicoterapia, é fundamental praticar o autocuidado durante o processo de luto. Atividades que promovem bem-estar, como meditação, exercícios físicos, alimentação equilibrada e momentos de lazer, podem trazer alívio para o corpo e a mente. O luto pode esgotar nossas energias emocionais e físicas, e cuidar de si mesmo, mesmo nas pequenas ações do dia a dia, é essencial para ajudar a manter o equilíbrio emocional. Essas práticas simples fortalecem a resiliência e ajudam a enfrentar a dor com mais recursos internos, promovendo um processo de cura mais saudável.
Luti Christóforo
Psicólogo clínico.
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